quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Ansiolítico

No vazio que eu vivo noite e dia,
Ansiedade no meu peito que ardia
Sem sentimentos, não há nada que magoa.
O seu perfume é ansiolítico na minha boca

Inebriante, me acalmava, me entorpecia
O seu aroma que viciava era minha sina.
Que me fazia me sentir como uma pessoa,
E não algo semelhante a uma mosca

A sua mordida com efeito de morfina
Sem overdose se cheirado em demasia
Sem abstinência, mas não vivo sem essa droga
Como chicote, está marcado nas minhas costas

Inebriante, me acalmava, me entorpecia
A sua mordida com efeito de morfina
Que me fazia me sentir como uma pessoa,
O seu perfume é ansiolítico na minha boca.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Espinho de Rosa

Você é um espinho de rosa
da mais linda flor.
Penetra feito memória
Na carne de seja quem for. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A Loja

  

_ É a sua primeira vez, senhorita...?_perguntou a atendente.
  _ Bianca _ adiantou-se, enquanto olhava curiosa, para além da porta de vidro fosco, e novamente olhou no crachá da atendente, _  confesso que é a minha primeira vez... Fátima, acho que deve ser fácil de notar.
  _Mas não há motivos para nervosismo senhorita Bianca,_ Os lábios pintados roxo se alongaram em um sorriso cortês_ a primeira vez sempre parece meio estranha, mas estou aqui para sanar todas as suas dúvidas. Temos para todos os gostos e a senhorita pode ficar a vontade para escolher o que mais a agradar. Está procurando algo para a senhorita, ou é um presente?
  _Na verdade é um presente de amigo oculto, não sei muito bem a preferência da amiga que sorteei, e ainda por cima temos um preço máximo do presente, então não posso gastar muito.
  _Entendo, mas não se preocupe, temos um catálogo com preços variados, alguns estão na promoção e, dependendo do que levar também podemos até dar um bom desconto. Você pode me dizer o que sua amiga gosta, ou o estilo dela, isso geralmente ajuda na escolha do presente.
  _Bem pensado...me deixa ver..._Bianca afastou a franja loira do olho e a pôs presa atrás da orelha_ ela é do tipo fitness, gosta de esportes e está de dieta, ela até emagreceu cinco quilos em dois meses.
  _Ah...do tipo esportiva, acho que posso pensar em algo...ela tem alguma preferência de cor?
  _Bom_Bianca prolongou o "om" por alguns segundos_ acho que branco mesmo...sabe como é, as vezes é melhor apostar no básico, mas ela pode trocar se não gostar?
  _Claro!_ Fátima respondeu de forma entusiasmada_ é só não retirar a etiqueta.
  _Certo!_Bianca devolveu o entusiasmo na mesma proporção_Então..posso ver o catálogo?
  _Aqui está_ Fátima entregou uma pasta negra com a logo da loja em azul e roxo.
  Bianca foleou com cuidado as páginas de plástico, analisando os produtos e seus respectivos preços, coçou o queixo, mas não parecia muito convencida, timidamente perguntou:
  _Posso dar uma olhada no estoque?
  _A vontade, só me acompanhar_ Fátima abriu a porta de vidro fosco atrás de si. Fez sinal para que Bianca entrasse primeiro e a mesma aceitou o convite seguindo em frente.
  A porta dava para uma sala enorme, refrigerada por ar condicionado, com inúmeras celas para cães de grande porte. Bianca pôde então analisar cada uma para escolher o melhor presente pelo preço mais acessível. Homens, arrepiados de frio, estavam encolhidos em cada sela, sempre em movimento, em parte para se aquecerem,  em parte para encontrar a posição menos desconfortável para as colunas e pernas dobradas que doíam, pedindo para serem esticadas. A maioria amordaçados, os que melhor se comportavam tinham o privilégio de terem suas bocas livres, usando cintos de castidade, com coleiras apertadas em seus pescoços, folgadas apenas o suficiente para respirarem. Os gritos da maioria eram abafados pelas mordaças. Bianca parecia ignorar os gritos, sorrindo enquanto olhava para cada homem preso em cada gaiola e, para alguns ela sorria e falava como se falasse com um bebê, passando o dedo indicador por dentro da fresta da cela, tentando tocar na mercadoria, talvez dando uma falsa esperança aos que ela dedicava tal atenção. No fundo da sala havia um aquário onde quatro rapazes nadavam sem parar de um lado para o outro e um quinto boiava para descansar as pernas.
  Eram tantos os tamanhos e modelos que não sabia qual escolher, brancos, negros, amarelos, vermelhos, baixos, altos, magros, gordos e fortes, alguns de cara alongada e outros de cara achatadas. Cabelos compridos, bem tratados e com lacinhos cor de rosa, outros de pelagem raspada que pareciam ter acabado de ser tosados. Todos estavam em ótimo estado de higiene. Alguns a olhavam com cara de choro e os que estavam a mais tempo presos pareciam se portar melhor, com olhares sedutores, outros tentavam  exibir seus músculos, o que acabava sendo cômico, sem o espaço adequado para tal demonstração.
  Uma funcionária retirava um espécime ruivo e barbudo da cela, puxando-o pela coleira. Instintivamente o ruivo se espreguiçou e esticou, mas o movimento foi interrompido pela funcionária, que o puxou pela coleira para se manter encurvado. O encaminhou até a sala de banho e tosa, mas antes de fechar a porta, sorriu para Bianca e perguntou à Fátima:
   _Sabe se é só para dar banho no R-32, ou tenho que depilar também?
  _É para depilar com cera quente também, mas a dona dele pediu para deixar a barba, dê uma aparada nela e corte as pontas do cabelo, por favor, Bruna.
   _Certo_e se dirigiu ao ruivo_Vamos garoto. Não vai doer nada.
  Bianca chamou Fátima e perguntou:
  _Posso ver esse loiro aqui?_apontou para o rapaz dentro da quinta gaiola de baixo.
 _Pode sim_ engatou uma vareta de um metro e quinze de comprimento na coleira dele e o puxou. O rapaz loiro a acompanhou sem exitar. Fátima o acariciava enquanto falava_ Esse é ótimo! Bem educado, faz as necessidades no lugar certo e até sabe alguns truques, como cantar, por exemplo. Sua amiga pode deixá-lo preso na gaiola ou andando livremente pela casa que ela não vai se arrepender. Está vacinado e com os exames em dia, a senhorita pode confirmar pelo selo de controle de qualidade aqui na orelha esquerda, um verdadeiro macho alfa! Os dessa raça já foram quase todos comprados, esse é o último, podemos fazê-lo por um ótimo preço e, como disse antes, se ela não gostar, pode trocar, é só não retirar o lacre_ passou o dedo indicador no cinto de castidade do loiro.
  _Será esse mesmo, Já tem nome?
  _Não tem não, sua amiga pode ficar a vontade para escolher um que esse rapaz inteligente aqui vai se adaptar rápido ao nome que der à ele.
  _Vocês dividem em quantas vezes?
  _Até cinco vezes sem juros.
  _Divide em três pra mim, aceita esse cartão?
  _Aceitamos sim.
  Fátima chamou outra funcionária e pediu que fosse embalado para presente, enquanto as duas acertavam o pagamento. Passou o cartão na máquina, Bianca digitou a senha e a máquina vomitou o recibo, Fátima destacou a via do estabelecimento e entregou a via do cliente para Bianca junto com a nota fiscal.
  _Obrigada pela preferência, tomara que ela goste.
  _Também espero que ela goste...acho que devo voltar no próximo mês para comprar um para mim.
  _Volta mesmo, até o final do mês devemos reabastecer o estoque. Tenha uma boa tarde!
  _Boa tarde.
 Bianca pegou o loiro pela coleira, agora vestindo um terno cinza, e saíram da loja.
 Cinco minutos depois, a porta abriu novamente e uma senhora de uns cinquenta anos entrou.
 _Boa tarde, posso ajudar?_ Perguntou Fátima
 _Só dando uma olhadinha.
 _Fique a vontade, se precisar de alguma coisa é só chamar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A troca

 

A falta de peso causada pela inércia dos órgãos abdominais de Júnior o alertaram que o elevador iniciou o breve percurso que o levaria do térreo ao sétimo andar. O rapaz negro sentia certa nostalgia com o aviso na forma de um frio na barriga todas as vezes que o transporte o proporcionava, o que não o impedia de soltar um súbito ar pelas narinas, como se sentisse alguma necessidade de esboçar de alguma forma que aquilo o divertia de certa forma. Olhava para o indicador digital que mostrava estar passando pela garagem; a viagem não seria longa, mas o daria tempo suficiente para se virar e olhar-se no espelho enquanto ouvia "Bosco" do "Placebo".
   (2.º andar)
   Estava levemente encharcado, não por ter sido pego desprevenido pela chuva, mas simplesmente por gostar de se molhar. Além do mais, a chuva não estava tão forte a ponto de necessitar se proteger. De calça jeans claro e coturno azul marinho, uma blusa branca de manga comprida protegida por uma jaqueta verde musgo.
   (4.º andar)
  Cabelos trançados em nagô, com poucos fios se rebelavam contra as tranças que os prendiam;  normais até mesmo quando recém feitos, o que não o incomodava. Além do penteado combinar com seu rosto alongado. Porém, seus olhos o incomodavam um pouco, não pela coloração castanha geneticamente programada pelos seus genes dominantes. Júnior adorava sua origem, amava seus olhos, afinal, se os olhos eram a janela da alma, então sua alma era realmente negra.
  (6.º andar)
   O que não gostava era do "azul" contido em seus olhos castanhos, a melancolia que o afundava em dois buracos de terra. À sete palmos de profundidade no âmago de sua "alma".
   (7.º andar)
   A porta do elevador se abriu acompanhada da sineta característica. Júnior saiu, caminhou calmamente em direção ao 702 enquanto mandava uma mensagem para Carla: "Cheguei". Retirou os fones de ouvido. Ao se aproximar da porta, o rapaz ouvia uma música abafada vinda de dentro do apartamento.  Após alguns minutos de espera, a porta se abriu lentamente, até uma distância de um palmo, e um doce aroma de amêndoas invadia o ar, como se anunciasse a chegada de uma divindade que se revelou sob o avatar de um rosto delicado, com lábios carnudos e olhos azuis penetrantes, uma mecha castanha clara e ondulada caindo sobre o  lindo rosto. Sorriu enquanto sua mão se estendia pela fresta da porta e o puxava para dentro da casa.
   Júnior e Carla se beijaram longamente, enquanto imergiam ao ritmo constante da música, que, apesar de ainda estar abafada, era possível reconhecer que se tratava de "Wicked Games" do "The Weeknd". Carla o puxava pelo casaco verde musgo enquanto as mãos dançavam pelas costas um do outro. A mulher o puxava sem desgrudar do seu homem, beijando-o incansavelmente enquanto a música, em looping aumentava progressivamente a cada passo em direção ao quarto.
   Atravessaram o corredor aos tropeços e chegaram no quarto de Carla. Apenas a luz do abajur iluminava parcialmente, ao lado do armário embutido branco. Júnior foi jogado na cama de solteiro por Carla, que não demorou para engatinhar em cima da cama, até seus lábios se aproximarem:
   _ Não vai me deixar ao menos tirar o coturno? Vou acabar sujando sua cama _ brincou seu companheiro negro.
   _Jú... Acha mesmo que estou preocupada com as roupas de cama nesse momento?
   _Não sou eu quem vai lavar depois. Você nunca deixaria.
   _Podemos parar de falar, só um pouco?
   _Tudo bem...
   Com um pouco de dificuldade, Júnior tirou o coturno esquerdo com o pé direito, logo após retirou o coturno direito com o pé esquerdo. As meias foram um pouco mais complicadas. Mas após algumas dezenas de segundos, o rapaz conseguiu retirá-las. Carla o fez se sentar e retirou sua jaqueta. Júnior se deitou novamente, com sua amada sentada em cima dele, que podia vê-la de lingerie negra e cinta-liga, realçando perfeitamente seu corpo que tremeu ao toque másculo em seus seios.
   Júnior voltou a se sentar e a segurou por trás com um braço, e com um giro, passou a ficar por cima de Carla, que sorriu mordendo os lábios inferiores. O rapaz beijou os seios da mulher que deixou escapar um gemido:
   _Estamos sozinhos?
   _Júnior...por favor...de novo não...não agora. Sabe o quanto eu te quero. Por favor...Podemos tentar_ Júnior a interrompeu calmamente:
   _Onde ele está?
   Carla suspirou desistindo:
   _No armário...meu bem..,'te' amo...
   _Eu também 'te' amo, meu bem..quer que eu fique?
   _Não...eu nunca pediria esse tipo de coisa, pode ficar na sala enquanto ele termina.
   _Tudo bem, estarei ouvindo música, manda mensagem se precisar.
   _Sabe que eu preciso...
   Júnior sentou-se na cama, soltou um súbito ar pelas narinas acompanhados de um sorriso, a beijou na testa e na boca, beijou seu pescoço e saiu do quarto, fechado a porta. "Wicked Games" se tornou novamente um som abafado, inspirou fundo, ainda sentindo o aroma de amêndoas em seu corpo, como se Carla ainda o abraçasse.
  Ainda sentia as vibrações da percussão da música do quarto, pôs os fones de ouvido. Se dirigiu à sala e sentou-se no sofá e fechou os olhos, apertou o play do seu celular e "Where The birds Always Sing" do "The Cure" começou a tocar, também em looping.
   Cochilou após a terceira repetição...não sonhou.
   ...
   Foi trazido de seu estado de inexistência por um toque quente no rosto e um cheiro de café misturado ao doce aroma de amêndoas. A mão passeou até seu queixo que foi puxado para receber um beijo. Júnior não se permitiu dar mais que um selinho, com medo de estar com bafo. Principalmente por ter notado que Carla escovou os dentes. Júnior abriu os olhos e a viu com os cabelos desgrenhados, usando sua jaqueta verde musgo, segurava duas canecas. Não usava mais as meias da cinta-liga. O rapaz aceitou de bom grado a caneca. Assoprou um pouco o líquido negro e tomou um gole tímido, que não o impediu de queimar a língua. Deu espaço para Carla se sentar ao seu lado e perguntou:
   _Foi bom pra você?
   _Não começa, Jú...Não faça isso consigo mesmo, e muito menos comigo.
   _Desculpe...foi a coisa mais apropriada que consegui pensar...não queria soar implicante.
   _Isso é muito estranho pra mim, ainda mais por amar você...não é tão fácil quanto nas primeiras vezes quando...achei que fosse só um fetiche ou uma fase... sei lá! Pensei que você iria superar isso.
   _Eu também amo você..desculpa, mas não consigo superar essa "condição"...
   _Tem certeza que o problema não é comigo_ Suplicou Carla_alguma coisa errada que eu faço, algo que eu possa melhorar?
   _Não, você é perfeita, Carla. O problema sou eu que não consigo mesmo enrijecer.
   _Tem certeza que você não é gay?_ Carla riu da própria desgraça.
   _Tenho certeza, amor, sexualidade não tem nada haver com meu estado.
   _Ah não? Como pode ter certeza se não funciona comigo?
   _Você é lésbica?
   _Não.
   _E como sabe?
   _Nunca me interessei em experimentar com outras mulheres.
   _Já se apaixonou antes de perder a virgindade?
   _Muitas vezes.
   _Entende que sexualidade não tem nada a ver com experiências. É muito mais íntimo. Ninguém pode se apaixonar por um sexo que não seja o que a atraia. E eu nunca me apaixonei por um homem.
   Carla ficou sem argumentos, assim como todas as vezes que ele repetia esse discurso, afinal ela precisava ouvi-lo.
   _Desculpa por se apaixonar por alguém quebrado como eu...Queria poder te dar tudo o que queria.
   _Mas você me dá, meu bem...
   _Só não a satisfaço...
   _Você quer deixar esse acordo de lado? Olha, não me importo em fazer abstinência como você...
  _Não, Carla, não é uma abstinência, é uma prisão. Não me importo em continuarmos assim e...mudando de assunto, o 'cara' ainda está aí?
   _Ele já foi embora a alguns minutos antes de começar a passar o café...eu..eu sinto que te traio cada vez que você me deixa excitada para um desconhecido me comer.
   Júnior ficou com lágrimas nos olhos, mas não piscou para evitar que as mesmas escorressem, respirou fundo:
  _Jú..não se acalma, se solta, extravasa, fica com raiva, triste, sei lá, mas esboça alguma reação...prender isso para você mesmo só vai te prejudicar.
   Júnior abaixou a cabeça e se recompôs o mais rápido que conseguiu:
   _Você quer terminar comigo? Nunca quis que você se machucasse desse jeito. Desculpa..eu disse quando começamos a namorar que não a faria sofrer e acabei te traindo dessa forma.
   _Amor, não fale em traição, você nunca poderia dizer que me traiu...eu aceitei as consequências e não, não quero terminar contigo. Nós vamos  superar isso, você vai ver...
   _Assim espero_ Júnior se acalmou. Carla segurou suas mãos e disse:
   _Vamos superar isso juntos.
   _Te amo.

sábado, 10 de outubro de 2015

Agassu (Parte 2) Mama Africa



No berço da Mãe África
no meu lar eu me sinto,
sua natureza é empírica.
seu puro ar eu respiro.

A intensidade em mim
desperta um outro humano
pela metade oculto,
Alerta ao seu domínio

Mesmo assim, é certeza
Que a terra não tem dono.
Reside em mim o fardo
da tutela ao meu povo.

Terra alguma tem dono
por ser um organismo
vivo. Uma entidade
a mercê dos vivos

Mas toda a nossa tribo
está a ordens da terra.
Afastados do estribo
e em paz nessa nova era




Agradecimentos especiais a Ana Carolina S. Nicoli pelas fotos.

Modelo: Fabiano de Luna Fonseca (vulgo, este que vos digita)

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Agassu (Parte 1) - "Wapenzi"



Como se fossem abortados pela África,
O chicote os molda para serem fiéis
aos donos e levados para a nova América,
Tendo sua alma vendida por contos de réis

Dias e noites se passam naquela senzala;
Levanta  cedo com o galo e pouco se come.
Trabalhando exaustiva e arduamente com a enxada.
Pausando apenas no momento em que o sol some.

Com o passar do tempo, o trabalho era mais pesado
Os canaviais não eram mais tão necessários
Quebravam muitas pedras, quebravam cascalho
A febre do ouro aos brancos havia chegado.

Somente o trabalho se comparava ao açoite,
Pois um escravo sem marcas era algo bem raro.
A chibata  acertava forte como um coice
Controlados com a passividade de um gado.

A mão feroz a qual o chicote obedecia,
Pelos negros secretamente amaldiçoado,
Com um sorriso no rosto aplicava tal sina
No gado que suplicava ao nome "Amado".

A coisa que mais amedrontava em Amado
jazia além da força que brandia seu chicote,
Tendo em vista que seu sangue era misturado,
pois a mão do mulato pesava mais forte.

Descarregava a ira que de sua mãe herdou
desde o parto. Chorava com infante repúdio
desde que se lembrava, em sua mente ecoou
Em sonos noturnos sua mãe berrava: 'Estupro!'

Agora Amado, filho de um preto maldito,
que sofreu o castigo no lugar do escravo,
que na pele, aprendeu a aplicar o suplício,
 o devolveria a qualquer africano ignavo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Passividade



Com a aceitação negada pelos dois lados da moeda,
Nada me resta além de repudiar minha natureza.
E quando minha confiança é posta por terra,
minha mente perturbada vagueia rumo a incerteza.

E se aceitar o leite descendo pela minha garganta
que engoli em minha infância, dado por homens e cachorros?
 Já não basta a humilhação de não me levantar da cama,
Ainda tenho que suportar a desconfiança dos outros.

Já não tenho o combustível para enrijecer
Ou para conseguir cumprir com meu compromisso.
Poderia então passar a ser um mero chofer
Deixar de ser agressivo para ser apenas passivo.

Não seria nenhuma humilhação deitar de bruços,
Já que ao menos alguém teria alguma satisfação,
Focando apenas em meu semblante taciturno,
e quem sabe conseguir alguma distração?

Infelizmente não adianta me manter distante
do contato físico, já que ninguém enxerga
o meu empenho, mas sim o meu semblante,
o de um ser que pensa apenas com a verga.

Um último sacrifício em prol de quem amo
para evitar mal entendidos de terceiros,
Deixar de lado meus desejos humanos
E assim vejam que meus auxílios são sinceros.